BOTAFOGO 4 X 0 VASCO - 1968
Vinte anos depois, repete-se a mesma final de Campeonato Carioca. Em 1948, com o campo de General Severiano lotado, o Botafogo sagrava-se campeão vencendo o Vasco por 3 x 1. Agora, 1968, com o Maracanã reunindo uma de suas maiores platéias - 141.689 pagantes - , a guerra vai repetir-se. Só que agora vale o bicampeonato para o alvinegro.
O Botafogo vai entrar como favorito, pois seu time está bem e ele joga com a vantagem do empate. Situação que favorece ainda o esquema tático preferido de Zagalo: firmar-se na defesa e ir à frente em contra-ataques.
Durante toda a semana, o Vasco se dedicou a uma cerrada guerra de nervos contra Gérson, o cérebro da equipe. Bianchini, centroavante do Vasco, ex-Botafogo, catimbeiro e valente, prometia quebrar a perna do Canhotinha de Ouro, garantindo que Gérson, por covardia, iria esconder-se no campo. Mas Bianchini nem vai jogar: no último treino ele contundiu o joelho e acabou vetado para a partida decisiva.
Nove de julho, tarde ensolarada, dia da decisão. Os times já estão em campo. O Maracanã quase explode com o delírio da galera na entrada dos dois times, um em seguida do outro, praticamente juntos. Alinhados em suas posições, lá estão aguardando o apito do árbitro. Do lado do Botafogo, Cao; Moreira, Zé Carlos, Leônidas e Valtencir; Carlos Roberto e Gérson; Rogério, Roberto Miranda, Jairzinho e Paulo César. Do outro lado, Pedro Paulo; Jorge Luís, Brito, Ananias e Ferreira; Buglê e Danilo Meneses; Nado, Nei, Valfrido e Silvinho.
O Botafogo, conforme se esperava, vem com cautela: Rogério, Carlos Roberto e Paulo César fazem um bloqueio à frente da zaga, enquanto Jairzinho e Roberto Miranda aguardam isolados no ataque os lançamentos longos e mortíferos de Gérson. O Vasco está bem mais agressivo, mas isso também era de esperar: afinal, é ele que está precisando da vitória. Os laterais Jorge Luís e Ferreira estão sempre adiantados, mas o time parece desorganizado.
Aos 2 minutos, Silvinho quase abre a contagem para o Vasco, assustando a torcida botafoguense, que suspira aliviada. Logo em seguida o Botafogo dá o troco: Gérson lança Jairzinho em profundidade, que enche o pé; o goleiro vascaíno defende parcialmente e Gérson pega o rebote estremecendo o travessão com seu tiro de canhota. Agora é a vez da torcida botafoguense quase entrar em delírio pela jogada perigosa. O jogo vai-se definindo conforme o esperado: o Vasco atacando mais, mas sem objetividade, enquanto o time alvinegro aguarda a chance de surpreender o adversário.
Quinze minutos de jogo. Jairzinho atrai Ananias para fora da área e estica o passe a Roberto, que disputa a corrida com Brito. O centroavante botafoguense chega primeiro e chuta forte para o gol. Inapelável. A galera enlouquece. O descontrole do time vascaíno é geral. Agora ele precisa marcar dois gols para chegar ao título. O time se lança desordenadamente ao ataque, fazendo o jogo preferido de Zagalo. Aos 33 minutos, Jairzinho recuado, com Ananias em seu encalço, lança para Paulo César na ponta-esquerda. Este corre até a linha de fundo e cruza à meia altura. Jairzinho e Roberto correm mas não alcançam a bola, que sobra para Rogério, na corrida e em diagonal. Outro chute indefensável. Novamente a torcida alvinegra delira. Fica mais tranqüila a situação para o Botafogo e mais angustiante para o Vasco. Sem alterações táticas nos dois times, termina o primeiro tempo.
O Vasco volta para o segundo tempo com Sérgio em lugar de Ananias. O técnico Paulinho de Almeida quer fechar o miolo da área. Surpreendentemente o Botafogo, com os mesmos jogadores, retorna mais ofensivo. Pressiona com insistência a área adversária.
Aos 15 minutos do segundo tempo, Paulo César, da meia-lua, rola para Jairzinho livre diante do goleiro Pedro Paulo. Bola na rede que o goleiro nem tentou segurar. Não deu tempo. 3 x 0. Não há mais esperanças para o Vasco. A galera do Botafogo já comemora a vitória. O Botafogo rola a bola de pé em pé e a torcida exige " Olé, olé" .
Aos 25 minutos do segundo tempo, o juiz Armando Marques assinala o sobrepasso do nervoso goleiro Pedro Paulo. Barreira formada, Paulo César toca de leve para Gérson, que marca por cobertura.
É a loucura. No campo, os jogadores abraçam-se eufóricos. Na torcida, delírio e festa. Afinal, ganhar o bicampeonato de goleada não se comemora todo ano. 4 x 0. A glória.