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Rolling Stones - Anos 60 Estes treze álbuns, para muitos fãs, compõem a melhor parte de toda a carreira fonográfica dos Rolling Stones. Gravados e lançados entre 1964 e 1970, representam todo o período em que o grupo rivalizava à altura com os Beatles - se perdia em popularidade, conseguia conceber obras tão impactantes quanto as dos rapazes de Liverpool. Esta profusão seminal foi o bastante para inscrever seu nome na história da música da década. Com a passagem para a gravadora multinacional Columbia, que arcava com a distribuição e a monitoração do selo que levava o próprio nome do quinteto, vieram álbuns mais conceituais, polêmicos e significativos como Sticky Fingers, Exile On Main Street e It's Only Rock'n'Roll. A década de 70, porém, foi determinante em enquadrar os Stones como o exemplo perfeito de um rock'n'roll mais clássico e uniforme. Desde então a banda, quando não curtia peuenos períodos de inatividade (motivados pela briga de egos entre seus integrantes), sempre primou por continuar presa em clichês e repetições e sem qualquer preocupação inovatória. E também não existiam mais os Beatles Os treze títulos relançados pelo MusiClub são The Rolling Stones, 12 x 5 (ambos de 1964); The Rolling Stones, Now!, Out Of Our Heads (ambos de 1965); December's Children (And Everybody's), Aftermath, Got Live If You Want It! (todos de 1966); Between The Buttons, Flowers, Their Satanic Majesties Request (todos de 1967); Beggar's Banquet (1968); Let It Bleed (1969) e Get Yer Ya-Ya's Out (1970). A grande maioria dos discos, sobretudo os do início da carreira, compila os diversos singles do grupo, chegando inclusive a repetir algumas faixas. E são destes período alguns dos grandes clássicos deixados pelo grupo como "(I Can't Get No) Satisfaction", "Lady Jane", "Let's Spend The Night Together", "Ruby Tuesday", "Sympathy For The Devil", "Gimme Shelter" e "Jumpin'Jack Flash". Para compreender a suma importância da primeira etapa dos Rolling Stones para os anais do rock'n'roll é preciso entrar em uma máquina do tempo e voltar na história quase quatro décadas, para a Inglaterra do começo dos anos 60. O país se encontrava dominado por emoções reprimidas em um intenso conflito de gerações. Os mais velhos se ecnontravam assombrados pela nostalgia da guerra, do império e dos racionamentos - e sobretudo por uma nova safra tão urgente quanto emergente. Os mais novos, por sua vez, tinham motivos para comemorar. Haviam acabado de escapar da obrigatoriedade do serviço militar e posto para escanteio a ameaça de aniquilação pelos mísseis cubanos. Os jovens ainda tinham um diferencial a mais: dinheiro pronto para gastar e sem qualquer sinal de extinção - a época era de pouco desemprego e, ao contrário da década seguinte, a desilusão sócio-econômica ainda não havia batido às portas dos britânicos. Dirigidos pelo pertinente ímpeto consumista, eles não pensavam duas vezes antes de torrar seus ordenados em discos de música pop. A maioria, importada da América, a terra que anos atrás inventara a cultura teenager. A grande maioria, dos heróis que defendiam a bandeira revolucionária do rock'n'roll. Este mesmo rock'n'roll americano que jovens e adolescentes
britânicos adotaram na segunda metade dos anos 50, apresentava então seus primeiros
sinais de cansaço. Uma péssima conjunção astral fez com que todos grandes nomes do
gênero saíssem de circulação em um curtíssimo espaço de tempo (Elvis preferiu servir
ao exército na Alemanha; a carreira Jerry Lee Lewis sucumbiu a escândalos sexuais; Chuck
Berry foi para a prisão; Little Richard trocou os palcos pelas pregações da igreja; as
meteóricas ascensões de Ritchie Valens e Buddy Holly esbarraram em um acidente aéreo).
Os novos heróis postos em ação pela indústria fonográfica atendiam pelo nome de
Frankie Avalon, Fabian, Paul Anka, Neil Sedaka, Righteous Brothers e Bobby Tudo combinou para que o espaço aberto no estrelato apontasse para novos caminhos, mais precisamente para uma turma que, do outro lado do Oceano Atlântico, havia não só apreendido corretamente todas as lições do rock'n'roll e do rhythm'n'blues com também se mostrava afiada para tomar de assalto as paradas. Beatles e Rolling Stones saíram na frente na corrida pela conquista dos corações e mentes do público jovem/adolescente. Outros grupos (como Who, Animals e Kinks) também tomaram parte de territórios menores. O que não se esperava, porém, é que todo este sucesso ultrapassasse as fronteiras da terra da Rainha. Os britânicos não só passaram a ter o domínio de todo o Estados Unidos - o que fez o movimento ser chamado de British Invasion - como também fizeram a febre se alastrar por todo o planeta. Não fossem eles, muito provavelmente o então moribundo rock'n'roll teria agonizado de vez e hoje seria reconhecido como uma revolução meramente fugaz, fogo-de-palha. Sorte dos adolescentes, que ganharam dois novos ícones para persistirem na série de profundas mudanças iniciadas na década anterior. Mais: encontraram os vértices perfeitos para (ao lado do herói temporão Bob Dylan, egresso do conservador e acústico circuito do folk e do country) comporem a trilha sonora ideal de uma série de anos que trataram de romper com todos os valores que ainda permaneciam intactos. Assim, no terreno musical Beatles e Rolling Stones foram alçados à condição de líderes da forte (e impossível de ser detida) torrente de novos pensamentos sociais, sexuais e comportamentais. Como manda a eterna lei natural dos opostos, Beatles e Rolling Stones, apesar de amigos pessoais, não demoraram muito para levar as carreiras para a bipolaridade. Se o furacão da beatlemania fazia John Lennon, Paul McCartney, Ringo Starr e George Harrison serem considerados os "genros que toda mãe gostaria de ter", o empresário Andrew Oldham logo percebeu o trunfo que tinha na mão e passou a dirigir a imagem de sua banda para o outro extremo. Mick Jagger (vocais), Keith Richards e Brian Jones (guitarras), Bill Wyman (baixo) e Charlie Watts (bateria) passaram a ser tachados como os típicos do bad boys. Um slogan, bolado pelo próprio Oldham, já tratava de semear a dúvida e a polêmica na cabeça dos pais ao perguntar "Você deixaria sua filha sair com um rolling stone?". Muito antes de um Johnny Depp, Mickey Rourke, Edmundo ou Romário, os Stones já faziam sucesso apostando na anti-imagem. A diferença não era mesmo golpe de marketing. Os Rolling Stones não apenas interpretavam personagens. As origens dos integrantes se diferenciava bastante dos Beatles. Estes eram bem-nascidos rapazes do interior que estudavam música por prazer e com o pleno apoio da família. Os Stones vinham de famílias da classe operária londrina, dos subúrbios onde a população procurava conquistar evoluções na vida contando com o enorme esforço - nem sempre justamente reconhecido - do trabalho. A vida dura do proletariado dava à turma de Mick Jagger e Keith Richards propriedade suficiente para interpretar e decodificar em suas músicas as lamúrias e desilusões dos bluesmen americanos. E esta dicotomia sempre foi tão marcante que mesmo décadas depois, fãs de Beatles e Rolling Stones se dão ao luxo de travar no segmento roqueiro uma rivalidade tal qual Marlene e Emilinha Borba, Flamengo e Vasco, Deus e diabo e muitos outros yins e yangs. A relação de amor (à sua banda favorita) e ódio (à outra) chega ao ponto de regulamentos internos de certas rádios rock que agradam em cheio ao perfil do roqueiro mais "radical" e conservador simplesmente proibirem a execução dos rapazes de Liverpool - ao passo que uma música dos Stones é tocada a quase cada hora.
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