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MESTRE AMBRÓSIO Fuá Na Casa de Cabral (Sony) Por Alexandre Matias Apesar da tradição ser vista como algo estático e imóvel, é claro que ela evolui. Afinal de contas, quando qualquer coisa assume o status de tradicional, é que esta atingiu um patamar tão importante que se enfiltrou nas fundações daquilo que o aceita como tal. Mas quando ela chega lá, não pára sentada neste trono, esperando outra tradição se estabelecer e pô-la pra fora. Na verdade, a tradição - e, conseqüentemente, a cultura popular - evolui em passos lentos. Ainda mais na sociedade atual, em que os segundos parecem ser pequenos pra abrigar a quantidade de informação que nos despejam hoje em dia. Tradição e cultura popular se movem numa velocidade natural, a mesma das árvores e das plantações. E por isso mesmo estão em constante movimento. Nunca páram. Simplesmente vão, usando as pessoas como instrumentos para uma música secular. E mesmo entre prédios e computadores, lixo nuclear e dinheiro virtual, a cultura nordestina - talvez o melhor exemplo de cultura popular no Brasil - encontra lugar pra se manter viva. Encontrando em seis pernambucanos o melhor caminho pra continuar em ação, a música do nordeste do país, que levantava poeira em festas à lampião de gás, sobrevive em tempos de asfalto e eletricidade. "Hoje eu faço forró em pé-de-calçada", canta o vocalista e rabequeiro Siba, mostrando que o forró não existe mais no pé-de-serra, porque não há pé-de-serra. Os tempos são outros, é preciso adaptar-se. A cabeça dos músicos contém informações que vão desde técnicas de gravação digital a clássicos do rock, mas nada disso interessa ao resultado final - que limita-se a continuar com sanfona, percussão, rabeca (um violino rústico), baixo e surdão. Mas o forró é só o arroz no enorme sarapatel de ritmos nordestinos promovido pelo Mestre Ambrósio. Aqui, maracatu, xaxado, cantigas de roda, orações, cavalo-marinho, ciranda, coco, xote, repente e vários subgêneros que, se dependesse da cidade, sumiriam entre a violência, a miséria e o vício. Mas a cidade não tem forças perto da tradição, que se manifesta poderosa e retumbante no segundo disco do grupo, Fuá na Casa de Cabral. O que ouvimos é um desfile colorido de ritmos e melodias que parecem não ter começo nem fim, surgidas num improviso interminável, que se acalma quando é frio e cresce quando é quente. Como a natureza, o som do Mestre Ambrósio também tem estações diferentes e complementares. Mas por trás de uma torrente dinâmica de folclore, é possível sentir a velocidade da mudança em pequenas novidades musicais. Seja na fita invertida da faixa-título, na introdução acadêmica de Sêmen, no peso de Esperança, na guitarra baiana de Os Caboco, nas cordas de Pedra de Fogo - o fim do século 20 deixa suas digitais sobre algo que parece tão extenso que o tempo é pequeno para medirmos. E ouvimos um disco rico, repleto de vida, como se a natureza quisesse falar pelos auto-falantes construídos pelos homens. Os textos só poderão ser reproduzidos com a autorização dos
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