Amanda
    3ª Vampira Mais Procurada 
    Meu nome é Yevgene Goran Yavicevich. Nascido sobre solo Ucraniano no ano de 1419. O que fui não importa. A minha história é a única que não merece ser contada. No entanto, a história é a única verdade. Nada existe a não ser História. Em verdade, o que somos, ou o que pensamos ser, não passam de sombras pálidas de uma verdade aterradora. Nada pode existir a não ser através da história, e o que pensamos ser realidade é apenas o espelho de uma verdade intocável. A verdade que buscamos e lutamos para revelar, em vão. A verdade que, e pela qual nos apaixonamos. A verdade que nosso mais irreal sentido de unidade procura como que uma lei ou ordem incontrolável. Nós não podemos, por mais que intentemos, nos desviar desta busca. A busca de nossa verdadeira essência. A procura de quem somos nós. "Us and Them", do Pink Floyd está no volume máximo, creio que em instantes, alguns vizinhos irão bater à minha porta, afinal a madrugada está em sua plenitude. Eles irão reclamar do barulho, e dizer-me que não estão podendo dormir, ou que o bebê está chorando. Bem, a mim isso pouco interessa. É apenas uma pequena, e irrelevante porção da história.
    Uma das quais não merece ser descrita. É uma pena que a maioria das pessoas não possa compartilhar com a história, a sua e as de outros. Colocar-se de frente com a realidade, e entender seus ocultos significados. O alucinógeno já está se espalhando pelo meu cérebro. Se é que eu possuo um. Tanto faz. Já é tempo de se narrar outro acontecimento importante. Porções da história que determinam os rumos do mundo. Bem, vamos ao princípio: Essa é uma pequena história da história de Amanda. Era uma mulher lindíssima. Seus olhos tinham cores diferentes. O direito era castanho escuro, e se expressava em conhecimento. O azul, do esquerdo, nos mergulhava imediatamente em mistério. A dualidade de sua essência era. . .
    Não atropelemos os fatos. De sua face perfeita, e clara, nada mais precisa ser dito. Os longos lisos cabelos curtos e negros, lhe envolviam em ternura. Era uma mulher perfeita. Ou quase. . . Ela estava nua, e o frio da noite não lhe machucava. Conversava com as estrelas e seus contornos faziam a lua suspirar. Que idiota disse que a lua é feminina? Bem, Amanda se sentia livre, e nada mais existia. Apenas ela e todo o Universo. Sinto por aqueles que não entenderam esta passagem, pois ela é essencial. Mas, o que fazer? A jovem estava livre, como disse, mas uma outra realidade estava lá. Iluminada pela escuridão, Amanda se levanta de seu transe. Ela havia percebido a presença da outra realidade. Ou melhor, o que a outra realidade demonstrava. Ela lentamente move seus olhos em sua direção, e a luz que deles foi emitida chega ao centro da questão. Amanda sabia o que estava acontecendo. Era um dos contatos, uma das poucas e ocultas pontes entre os dois. O sorriso foi inevitável.
    Transbordou em uma sinfonia de Deuses, e então eles se encontraram. Ela e sua pergunta. Os dois se consumiram como um só, e então, a dúvida desapareceu. Amanda havia se encontrado, e isso mudaria a vida de muitos. Chegamos então à dualidade. O que era Amanda? Era ela ou sua visão? E por que isso era importante? É curioso como a história se faz através das perguntas. Por acaso eu já lhes mencionei a idade de Amanda? Bem, ela não é muito antiga, não é tão velha quanto o número. Mas isso eu não sei ao certo. Sei que essa história se passou aqui no Brasil no princípio do século, mas não era essa a idade que vocês queriam saber. Eu acho. . . Pois bem, que importa? Acho que não vou mais falar da dualidade, a sua discussão e compreensão pode levar à loucura, e esta não é minha intenção.
    Na virada do segundo dos quatro números, de oito para nove, um pouco mais tarde, um acontecimento ímpar teve lugar no país. O que houve foi um grande cisma. Algumas realidades se tornaram verdadeiras, embora falsas, e algumas mentiras riram de nossas caras. Muita coisa mudou, e Amanda era o cerne da passagem. A moça é uma maluca, não ao meu modo. Ela é uma Malkavian. E esse foi o início do problema. Mas o início é só o começo, e o começo também faz parte. Me disseram que ela era do Paquistão, mas eu não sei. O cara que me disse que ela era do Paquistão estava muito louco, ou ele disse que ela era de Avalon. Agora eu me compliquei. . . Para facilitar, vamos supor que ela seja do Equador. Perfeito, o Equador é um ótimo lugar. Amanda era equatoriana, e ainda falava o português, embora já morasse no Brasil a mais de quatro décadas, com um lindo e leve sotaque latino.
    É complicado conter as lembranças. Elas atropelam como uma avalanche, que eu conheço por filmes, impedindo que sejamos prolixos e redundantes. Mas voltando as idéias, eu vou começar uma nova porque não me lembro mais do que estava escrevendo. Seria fácil lembrar, se eu lesse as linhas acima, mas eu estaria quebrando uma das seis leis. Ou seria um pecado capital?. . . Espero que não. Amanda havia se descoberto naquela noite, ela havia encontrado a si, e ela era a ponte. Ela era, e ainda é, a conexão entre os dois mundos. Nos dois Universos, as percepções são pessoais e individuais, mas a realidade é uma, e é dessa realidade que construímos nossos universos. Ela havia conhecido e construído os dois, e havia descoberto que ela era e sabia como passar de um para o outro.
    Ela poderia mostrar a qualquer um como era o seu outro mundo. Me desculpem se por acaso eu estou repetindo, mas eu acho importante deixar claro que todos nós, sem exceção, possuimos e fazemos parte dos dois mundos. Todos nós vivemos nos dois, que são na realidade um só. O problema é que apenas um deles é habitado pela consciência, assim, achamos que só existe um universo. Por isso achamos loucos os que sabem que existem no outro mundo, seja lá em que mundo nossa consciência viva. Eu não gostaria de ter omitido essa informação. Por isso eu a repeti, se é que eu a repeti. E isso era como um portal. Amanda tinha habitado os dois mundos com sua consciência. Ela poderia despertar o outro Universo adormecido em qualquer pessoa, não os dois, não sei porque, mas apenas a chamada Realidade Distorcida aos que julgam viver e conhecer a verdadeira realidade só porque são maioria. A esses ela poderia mostrar o outro lado, e esse era o perigo, ao menos para os seus irmãos de sangue.
    Ao se conhecer o seu outro lado, não que você possa acessá-lo intencionalmente a qualquer momento, como se abrisse uma porta, mas é que se você já viu o seu outro mundo, embora as percepções sejam pessoais, a realidade da qual você tira suas percepções são as mesmas, assim sendo os Malkavian se tornariam menos misteriosos e imprevisíveis, além do que, muitos de seus poderes, que foram trazidos do mundo vizinho, se tornariam fracos ou ineficazes para aqueles que já visitaram o seu reverso. Era como conseguir conhecimento e imunidade. Amanda era um perigo em potencial. Ela poderia conferir esse conhecimento e a imunidade. Amanda era um risco que os Malkavian não podiam correr, poderiam ser facilmente subjugados se algum outro clã se utilizasse de seus dons. Por isso Amanda precisava ser eliminada. Logicamente essa não foi a desculpa que os Malkavian deram para coloca-la na lista vermelha. Eles disseram que ela havia roubado o grande coelinho do conhecimento inútil, e que isso era uma inadmissível violação às regras da amarelinha de Marte. Pois bem, eles acreditaram. Fazer o que? Não vejo Amanda a quase um ano, se bem que o tempo sofre uma modificação estranha quando estamos doidos. Bem, Amanda me mostrou isso tudo, e até hoje eu vivo tentando reencontrar a ponte. . . Acho que me perdi neste mundo vermelho de feixes desvendados rodeados de escuridão.
    Volta para a página principal
    Volta para a página anterior